sexta-feira, maio 26, 2006

ai a p** da vida

POEMA DE UM FUNCIONÁRIO CANSADO

A noite tocou-me os sonhos e as mãos
Dispersou-me os amigos
Tenho o coração confundido e a rua é estreita
Estreita em cada passo
As casas engolem-nos
Sumimo-nos
Estou num quarto só num quarto só
Com os sonhos trocados
Com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário triste
A minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
A minha alma não dança com os números
Tento escondê-la envergonhado
O chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
E debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
Soletro palavras velhas generosas
Flor rapariga amigo menino
Irmão beijo namorada
Mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
Palavras soletradas na prisão da minha vida
Isto todas as noites do mundo uma noite só cumprida
Num quarto só

A. Ramos Rosa, O Grito Claro

quinta-feira, maio 25, 2006



Já estou com saudades de um funeral em directo na T.V, só tenho pena que a RTP não ponha o Gabriel Alves nos comentários.

quarta-feira, maio 24, 2006