segunda-feira, abril 30, 2007

Peripécias Descoloridas

Peripécia Vermelha

Coberto por um lenço vermelho, levaram-me pela rua das repetições.
Tive de fugir para a loja das definições,
Depois para o atelier das refeições.
Quem disse que a solidão não tem soluções?

Peripécia Branca

Fiquei absorto,
Encalhado
Nas palavras de um fado
Que se exige torto.

Peripécia Cinzenta

No edifício de sustento,
Deixo de mim um fragmento,
E sigo veloz
Para um lugar atroz.
Porque a vedeta me seduz
E eu não quero a luz.

Peripécia Amarela

O cão. O Freud. O Beckett. O José Mário Branco.
O cão. Dead Can Dance.
O cão.
O cão. A Nêspera. O Banqueiro Anarquista.
O cão. O Degredo.
O cão.

quinta-feira, abril 26, 2007

Olha o tédio fresquinho!

Camaradas, amigos e palhaços:

Vamos fazer as contas.
Eu pago os cigarros e o lixo. Dou um contributo para a limpeza dos dentes e com um jeitinho também pago as barbatanas. No que toca ao fantasma, faço uma cópia da chave da cela e vou lá satisfazer as minhas necessidades fisiológicas, mais não faço. À puta não pago nada, mesmo que engula a minha gosma temperada com agriões.
Não me lembro de quem é a faca, sei que a usei sem pedir autorização, mas como a usei para cortar a língua à andorinha negra, serei perdoado, acho eu.
Deixo ao vosso encargo, as despesas relativas ao transplante do dedo meiminho do pé direito do atleta olímpico, e da elaboração do mapa dos quelhos dos gritos, e outros dos. Ou do.
Confirmo ainda, que as leis deste Estado, prevêem isenção fiscal para actividades em que se usem as palavras: caramba, carago, caralho e porra. Outras expressões só podem ser usadas, excepcionalmente, nos casos previstos na lei deste Estado.
Já a realização do nosso teste “Cala-te ou chamo a bófia!” aos trabalhadores das industrias das inovações, foi chumbado devido ao protesto da confederação das industrias das tradições, pois estes estão a realizar um teste que se chama “Cala-te ou chamo a Igreja Católica!”.
O saldo final entre os débitos e créditos, no balanço, será nulo porque é um documento nulo, embora os acrobatas e os carpinteiros não concordem.

Yours
Patati Patata

segunda-feira, abril 23, 2007

Artifício de significados...

Cartoon de Kambiz Derambakh

Adoro queijo. Fedorento no odor mas delicioso no gosto.

A coligação de mensageiros, que enrola encantada a obscura utopia de descobrir a origem e o destino das noites despropositadas.

As cinzas duplas, perdidas na sombra tranquila de um lugar onde as palavras nos olham.

Os poetas de estilo, um emaranhado de muros preconceituosos, iluministas de ofício.

As parcas, conferência azeda entre ventos que duram um instante, mas cuja brisa permanece negra.

Os corações felpudos, ritmos cardíacos aleatórios, pulsar extenuante, vaguear de emoções artificias numa metamorfose de sintomas sádicos.

Os escribas das horas tardias, sentados, ambos em tons de castanho e em palcos diferentes, escrevemos forçosamente para fugir do olhar dos outros, mas encontramo-nos no albergue de olhares conhecidos.

sexta-feira, abril 20, 2007

Camilo Pessanha


Tinha este livro em PDF, agora que o comprei, apeteceu-me lembrar um poeta quase esquecido.

quinta-feira, abril 12, 2007

Resposta absurda

Resposta absurda a um mail absurdo que recebi:

Mas que blasfémia, seu herege!
Mas que anátema tu escreveste, texto pecaminoso, vergonhoso e ofensivo a milhões de pessoas que oferecem a sua vida a Deus! Pobre alma a tua, atormentada pelos prazeres da carne e dos sentidos. Pobre vida a tua, dominada pelo niilismo e pelo Rock”n”Roll - o meu amigo Ratzinger (o papa) é que têm razão: “ a música rock é obra do diabo”! O quão errado tu estás. Deus criou o sol, as estrelas e o amor. No principio era o verbo, ou seja, o desastre veio depois quando o homem decidiu conjugar o mesmo verbo. Como as coisas seriam diferentes se não houvesse a histeria colectiva de tudo conjugar. O potencial que temos foi feito para este mundo, para depois nos podermos libertar no outro lado.
Mas chega, é melhor eu (o outro mais absurdo) escrever agora.
Quero que se foda a religião e as religiões se fodam umas às outras numa apoteótica orgia espiritual e carnal, com as virgens e os virgens, os eunucos e os sodomitas, os vegetarianos e os canibais. Foi o homem que criou Deus e não o contrário. Não estou disponível para ouvir teorias diferentes, porque essa geram violência, guerra, misturado com a ignorância. Histéricos, os clãs religiosos são tão previsíveis! Fazem projectos de encenação dramática, para servirem de muleta emocional aos mais parvos dos parvos. Até parece que...parece não, é: eu nasci, vivo e vou morrer, a existência ou não de Deus não altera estes factos! Às vezes apetece-me gritar que tenho o mesmo Deus que os outros animais e vegetais, e o mesmo diabo. Tou-me a cagar para o que os outros pensam. Vou curtir. Vou consumir todos os pecados, vou partir tudo, vou matar todos(lá está:violência), deve ser divertido, não ter medo da morte ou de outras coisas tais. Este mundo é feio e eu não peço desculpa por ser feio, por desejar um apocalipse sangrento para aqueles que projectam os seus medos em mim, na minha libertinagem de a nada obedecer. Fui tocado pela bondade, mas fazem-me sentir um criminoso. Aquilo que me importa, é que seja lá o que for que nos separa, estaremos sempre ligados por cordas de tolerância. Irei rompê-las vezes sem conta e tornar a criar outras, analisadas ao pormenor, ao segredo.
As revoluções que são evolução não começam nas religões: acabam!

Fim?

segunda-feira, abril 09, 2007

As otas e os tgv`s assinalados
Que, da ocidental praia Lusitana,
Por terrenos nunca dantes escavados
Passaram ainda além da chicana,
Em perigos e discussões esforçados
Mais do que prometia a razão humana,
E entre gente engenheira edificarão
Novo empreendimento, que tanto sublimarão.